29.12.12

Não há tempo melhor do que a madrugada.
É nela que as pessoas se revelam.
É a essa hora que as pessoas decidem brincar de contar verdades a uma roda de amigos na piscina.
"Já sentiu algo por ele?"
"Sim."
"Ainda gosta de mim?"
"Não."
"Tem certeza?"
"Absoluta."
Não se sabe se ele ficou mais surpreso com a primeira ou com a segunda resposta, mas ambos sempre souberam que ela mentiu na terceira pra preservar essa amizade que só durou seis anos porque as duas primeiras perguntas nunca haviam sido feitas antes.


19.12.12

Filha do João

relendo aqui e acolá
descobri-me guimarãneana:
além de ser neologista
é o signo dos que escrevem assim:
dois pontos pra atentarem
ao que os espera no fim.
Impassível,
intacta,
inerte.
É assim que ela vive:
Um, dois, três...
dez empurrões!
and still she refuses to fall.

A dúvida maior é
se me refiro à bola de bilhar
ou à moça que não quis amar.

14.12.12

Banho de rimas ruins

Água de rio
vem correndo
refrescar a pele fresca
que não gosta de água fria.

Água salgada
é traiçoeira e faz olho chorar:
resseca a pele seca
que não tolera o sol,
nem o sal do mar.

Água de chuva
desce tão boa e tão devagar
que a pele os poros abre
pra alma banhar.

9.12.12


Relação conturbada
não é desencontro:
é a falta de alcance
dos braços nessa insistência
em andar de mãos dadas
depois que cada um
pegou um sentido na bifurcação.

3.12.12

Culpo-me mais pelo que penso
do que pelo que faço.
É isto que defino por repressão:
O pensamento reprime o desejo,
a culpa reprime o pensamento:
é o Cristo pregado na parede
olhando todo tempo para mim.