Algumas coisas nessa vida nascem e morrem sem sentido nenhum, a não
ser que alguém, antes de enlouquecer procurando o sentido, atribua
um sentido qualquer para aliviar a mente. A quarta-feira, por
exemplo, é um dia comum e agitado. É o dia em que é proibido cair
feriado. É o dia em que me preocupo em terminar os afazeres
atrasados dos primeiros dias da semana e em querer adiantar os do
final de semana. Não concluo nenhum, obviamente, mas pelo menos
ocupo a mente. A quinta-feira, por sua vez, é um dia especial porque
precede a sexta, e quem tem vida social perde a quinta pensando no
que vai fazer na sexta ou no sábado à noite. Geralmente vão aos
mesmos lugares, fazer as mesmas coisas, falar dos mesmos assuntos,
com as mesmas pessoas, mas ao menos ocupam a mente. Eu, que não
tenho, assisto a algum filme, leio Quintana, ou qualquer outro poeta,
já que é dia de literatura na faculdade e acabo lendo por obrigação
e também por gosto. Feriados na quinta são muito bem-vindos, apesar
de o sábado e o tédio serem triplicados. Já a sexta, ah... essa
sexta! É o dia em que todos se libertam, e só querem esquecer todas
as obrigações, todos os problemas, e aqueles que não têm rotina
pro fim de semana, saem literalmente da rotina e escolhem esse dia
para viver de verdade. Há quem não goste se o dia 13 cair nesse
dia. Há quem adore ao seu Deus nesse dia. O fato é que a sexta é
um dia com muito sentido, e isso me reconforta.
Os problemas começam no sábado. Reparou que sábado e domingo são
tão não úteis que se tornam dias inúteis? A não ser que você
adore ao seu Deus num desses dois dias. Mas sempre sobra o outro.
Sábado é tedioso. É o dia da ressaca. Do mau humor. Da
impaciência. Mas não é pior que o domingo. Eu reservo o domingo
pra Deus, e ainda assim ele me deprime. Não por ser de Deus, aliás,
de forma alguma!, tampouco por preceder a segunda (em partes).
Deprime porque é o dia em que me dou conta do inconformismo do ser
humano com as coisas. Trabalha durante a semana, quer descanso,
descansa no fim de semana, reclama do nada que se tem para fazer.
Reclama tanto da rotina dos dias úteis, mas não aproveita o tempo
livre para fazer nada além de reclamar da semana que foi e da que
está por vir.
Segunda
é um dia que eu incrivelmente adoro. Reclamo, como todo mundo, por
voltar à rotina, mas sei que ela é necessária. Pra mim, é
revigorante, como primeiro de janeiro. Sim, pasme, eu gosto dela. De
quem eu nunca gostei foi da terça-feira. Nem desgostei. É um dia
indiferente. Um dia que não representa nada, a não ser que alguma
data comemorativa caia numa terça-feira. Mas é um dia mais não
útil que o sábado, e mais deprimente que o domingo. Trabalho no
modo automático e me deprimo porque a terça não deprime. Não
deprime, não alegra, não entristece, não alivia, não faz nada.
Ela nem existe na nossa consciência. Deve ser por isso que sempre
temos cursos nas terças, consultas médicas, psicanálise, natação, fisioterapia, ou seja lá o que for. Ocupamos as terças
com coisas que não podemos – ou não queremos – fazer nos outros
dias. Ainda assim, deprimem. Deprimem inclusive quando abrigam um
feriado. É só um domingo triplicado. Penso que por essa razão os
hispânicos (e os gregos) atribuem a terça-feira 13, ou martes 13, como chamam aqui na Argentina, à má sorte. Compadeceram-se da sua completa
inutilidade e resolveram presenteá-la. Parece loucura (e é!), mas
já dei muitos sentidos às minhas terças pensaando por que a terça-feira não tem sentido. Quando descobri
o martes trece, aliviei. Pelo menos nesse dia a terça ganhou sentido
pra mim. O dia de saber que alguém aqui ou na Grécia está
reclamando e relacionando todos os problemas da sua vida ao infeliz do martes trece. Não que eu seja supersticiosa, nem que resolva meus problemas, mas daqui em diante, e principalmente
quando meu aniversário cair numa quarta, comemorarei os martes
treces com alegria e darei descanso pra loucura.